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Com participação de docentes da FCM, novo manual do INCA orienta gestores do SUS na implementação do teste DNA-HPV para rastreamento do câncer do colo do útero

A docente do Departamento de Tocoginecologia da Faculdade de Ciências Médicas da Unicamp, Diama Bhadra Vale, está em seu ambiente de trabalho, ao lado de duas telas de computador. Em uma delas, está aberto o “Manual de apoio à implementação do teste DNA-HPV para gestores do Sistema Único de Saúde”, lançado recentemente pelo Instituto Nacional de Câncer (INCA), no qual ela participou como parte da equipe de assessoria técnica. No fundo, há armários e uma parede com post-its e fotos coladas.
A docente do Departamento de Tocoginecologia da Faculdade de Ciências Médicas da Unicamp, Diama Bhadra Vale, participou da equipe de assessoria técnica na elaboração do Manual de Apoio à Implementação do Teste DNA-HPV para Gestores do Sistema Único de Saúde, lançado pelo Instituto Nacional de Câncer, recentemente.

O câncer do colo do útero, terceiro mais comum entre mulheres brasileiras, está prestes a ganhar uma poderosa arma para seu combate. O Instituto Nacional de Câncer (INCA) acaba de lançar o Manual de Apoio à Implementação do Teste DNA-HPV para Gestores do Sistema Único de Saúde. Trata-se de um guia estratégico para a transição do método tradicional de rastreamento (Papanicolaou) para o teste molecular de DNA-HPV, tecnologia comprovadamente mais sensível e eficaz.

Entenda a diferença: O principal causador do câncer do colo do útero é a infecção pelo Papilomavírus Humano (HPV), um vírus transmitido sexualmente. Enquanto o exame de Papanicolau identifica alterações nas células do colo do útero que podem ser causadas pelo vírus HPV, o teste de DNA-HPV, mais sensível, detecta a presença desse vírus antes mesmo que tais alterações celulares sejam visíveis no Papanicolau.

A publicação, destinada aos gestores do Sistema Único de Saúde (SUS), contou com a assessoria técnica dos professores do Departamento de Tocoginecologia da Faculdade de Ciências Médicas (FCM) da Unicamp, Diama Bhadra Vale e Júlio César Teixeira. E foi construído com base nas evidências robustas de projeto implementado no município de Indaiatuba, interior de São Paulo, entre 2017 e 2023, sob coordenação do professor Teixeira.

O estudo-sentinela acompanhou mais de 20 mil mulheres nesse intervalo de cinco anos e demonstrou que o teste de DNA-HPV não apenas aumenta a detecção de lesões precursoras, mas antecipa o diagnóstico em até uma década. “Com o DNA-HPV, cerca de 70% dos casos foram identificados em estágios iniciais, contra cerca de 70% em estágios avançados com o Papanicolaou”, destaca Diama. Leia matéria publicada pelo Jornal da Unicamp, aqui.

A mudança no método de rastreamento foi aprovada pela Comissão Nacional de Incorporação de Tecnologias no SUS (Conitec) em março de 2024, e representa um marco na saúde pública brasileira, além de estar alinhada às metas globais da Organização Mundial da Saúde (OMS) para eliminação do câncer de colo do útero até 2030.

Dados do INCA revelam que a doença é a quarta causa de morte por câncer entre mulheres no Brasil, com marcantes desigualdades regionais. Enquanto estados como São Paulo e Santa Catarina apresentam taxas de mortalidade controladas, regiões como Norte e Nordeste registram índices alarmantes, refletindo as falhas no atual modelo atual de rastreamento, ‘oportunístico’, conforme explica a docente da FCM.

“Diferentemente de países como Austrália, Holanda e Reino Unido, que inclusive já adotam o DNA-HPV como método primário de rastreamento, o rastreamento do câncer de colo de útero ainda depende da busca espontânea pelas mulheres, o que deixa lacunas enormes na cobertura, especialmente entre populações vulneráveis”.

Nesse cenário, os elaboradores do manual também levaram em conta a dimensão continental do Brasil, de modo a abordar estratégias visando à redução das desigualdades, como a autocoleta para populações indígenas, quilombolas, mulheres em situação de rua e pessoas LGBTQIAPN+; a busca ativa por agentes comunitários de saúde; e a integração com o calendário de vacinação contra HPV. “Não adianta ter a tecnologia se ela não chega a quem mais precisa”, enfatiza Diama.

Embora a especialista da FCM considere que o Brasil dá um importante salto de qualidade no rastreamento do câncer de coloco de útero com a implementação do exame DNA-HPV, ela fala sobre os próximos desafios da transição, que envolverá desde o desenvolvimento de sistemas organizados para a convocação ativa das mulheres, ao controle de qualidade em todas as etapas dessa convocação, e tratamento rápido das lesões identificadas.

Reorganização da rede de saúde. Dada à sensibilidade do teste na identificação de mais lesões, o manual alerta para um aumento esperado da ordem de 400% na demanda por colposcopias e biópsias, no início do programa. “Precisamos preparar os serviços para evitar gargalos”, ressalta Diama, ao comentar sobre uma ferramenta on-line, desenvolvida pelo INCA, para auxiliar os gestores no cálculo de procedimentos previstos para cada município, baseada em dados populacionais.

A formação dos profissionais de saúde na implementação do DNA-HPV é outro eixo crítico e o manual traz protocolos detalhados para a Coleta e armazenamento de amostras, interpretação de resultados, e aconselhamento às mulheres. “Muitas ainda associam rastreamento apenas ao Papanicolaou. Precisamos comunicar essa mudança com clareza”, observa Diama.

Embora o teste de DNA-HPV seja mais caro que o Papanicolaou, estudos mostram que ele se paga ao reduzir gastos com tratamentos de câncer avançado. “No estudo de Indaiatuba, observamos que o custo de tratar um caso em estágio inicial foi 75% menor que em estágio avançado”. O manual teve suporte de análises econômicas para embasar decisões de gestores, comenta Diama.

Acesse o manual:


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Estudo da FCM que determina teste de HPV em substituição ao Papanicolau pelo SUS é publicado na revista Scientific Reports

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