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+ Ensino Ano 2025, Volume 13, nº 3: Ensino Boletim FCM (ISSN: 2595-9050)

A Formação do Fonoaudiólogo Frente às Novas Tecnologias: Desafios e Oportunidades

[..] preparar estudantes que sejam tecnologicamente competentes, eticamente responsáveis e profundamente humanos em sua abordagem ao cuidado.

A professora Maria Francisca Colella dos Santos, coordenadora do curso de graduação em Fonoaudiologia da Faculdade de Ciências Médicas da Unicamp, está de pé, com os braços cruzados e sorrindo levemente. Ela veste um vestido azul-marinho com estampa de listras formando quadros. Ao fundo, há uma parede cinza-clara. Foto: Mário Moreira.
A professora Maria Francisca Colella dos Santos, coordenadora do curso de graduação em Fonoaudiologia da Faculdade de Ciências Médicas da Unicamp/Foto: Mário Moreira

Nos últimos anos, temos vivenciado uma verdadeira revolução tecnológica que tem impactado todos os setores da sociedade e a área da saúde não ficou de fora. Esta transformação digital tem redefinido práticas, processos e paradigmas em diversas especialidades, criando um novo cenário de possibilidades e desafios para profissionais e instituições de ensino.

Na Fonoaudiologia, a tecnologia também tem avançado de forma acelerada, oferecendo novas ferramentas, recursos e possibilidades de intervenção que antes eram inimagináveis. Desde softwares sofisticados de avaliação e diagnóstico até plataformas inovadoras de Teleaudiologia, inteligência artificial, realidade virtual e aumentada. As possibilidades de inovação são vastas e promissoras.

As inovações tecnológicas têm o potencial de ampliar significativamente o acesso ao cuidado fonoaudiológico. A Teleaudiologia, por exemplo, representa uma mudança paradigmática ao possibilitar o atendimento a pacientes em regiões remotas ou com dificuldades de deslocamento. Esta modalidade de atendimento não apenas amplia o alcance do serviço, mas também promove maior equidade no acesso à saúde, democratizando cuidados especializados, que anteriormente eram restritos a grandes centros urbanos. As ferramentas tecnológicas podem melhorar substancialmente a precisão dos diagnósticos e tornar as intervenções mais dinâmicas e personalizadas. Ferramentas digitais permitem a elaboração de planos de intervenção mais individualizados, com recursos visuais interativos, jogos educativos e aplicativos especializados que tornam o processo terapêutico mais motivador e eficaz para pacientes de todas as idades. A gamificação, por exemplo, tem se mostrado particularmente efetiva no tratamento de crianças com distúrbios de linguagem, transformando exercícios terapêuticos em experiências lúdicas e envolventes.

Desafios na Formação Profissional

Por outro lado, essa rápida evolução tecnológica também traz desafios significativos para a formação profissional. A formação do fonoaudiólogo precisa acompanhar esse ritmo acelerado de mudanças, garantindo que os estudantes desenvolvam não apenas competências tecnológicas, mas também as habilidades éticas e humanas necessárias para atuar com segurança e efetividade nesse novo cenário digital. O currículo tradicional dos cursos de fonoaudiologia precisa ser repensado para incorporar essas novas demandas sem perder de vista os fundamentos essenciais da profissão. É necessário encontrar um equilíbrio entre o ensino das bases teóricas consolidadas e a introdução de conhecimentos tecnológicos emergentes, preparando profissionais capazes de navegar com competência em ambos os mundos.

Iniciativas na Unicamp

Reconhecendo essa necessidade de adaptação curricular, efetivamos na reforma curricular, a inclusão da disciplina Telefonoaudiologia no currículo do curso, com o objetivo de dar início à discussão da temática com o corpo discente. O corpo docente do Curso de Fonoaudiologia da Unicamp está atento a este novo cenário e tem se atualizado constantemente, desenvolvendo pesquisas inovadoras para transmitir conhecimentos atuais e orientar os alunos na utilização responsável das tecnologias. Nossos professores participam regularmente de congressos, workshops e cursos de atualização, garantindo que estejam sempre na vanguarda do conhecimento tecnológico aplicado à fonoaudiologia. Além disso, temos procurado equipar os laboratórios com tecnologias atualizadas, permitindo que os estudantes tenham contato direto com equipamentos e softwares que encontrarão em sua vida profissional. Esta abordagem prática complementa o ensino teórico, proporcionando uma formação mais completa e alinhada com as demandas do mercado de trabalho.

Considerações Éticas e Responsabilidade Profissional

O uso de tecnologias na saúde exige uma reflexão ética constante e aprofundada. Os futuros fonoaudiólogos devem compreender questões complexas relacionadas à privacidade, confidencialidade, consentimento informado e uso responsável de dados, especialmente em ambientes digitais  onde as informações podem ser mais vulneráveis a violações de segurança. A proteção de dados pessoais e de saúde dos pacientes torna-se ainda mais crítica quando utilizamos plataformas digitais e sistemas de armazenamento em nuvem. É fundamental que os profissionais compreendam as implicações legais e éticas do uso dessas tecnologias, garantindo que a inovação não comprometa a segurança e a privacidade dos pacientes. Questões como o consentimento informado em ambientes digitais, a propriedade intelectual de dados de saúde e a responsabilidade profissional em casos de falhas tecnológicas são temas que devem ser abordados de forma consistente na formação acadêmica.

O Equilíbrio entre Tecnologia e Humanização

Apesar do avanço tecnológico impressionante, é crucial reconhecer que habilidades humanas como empatia, comunicação interpessoal, escuta ativa e sensibilidade continuam sendo essenciais e insubstituíveis na prática fonoaudiológica. A tecnologia deve ser vista como uma ferramenta que potencializa e complementa essas habilidades, nunca como um substituto para o cuidado humano. Acreditamos firmemente que a formação deve equilibrar o domínio das tecnologias com o fortalecimento dessas competências humanas fundamentais. O fonoaudiólogo do futuro deve ser capaz de utilizar as mais avançadas ferramentas tecnológicas sem perder a capacidade de estabelecer vínculos terapêuticos significativos com seus pacientes.

Concluindo, considero que a formação do fonoaudiólogo frente às novas tecnologias representa tanto um desafio quanto uma oportunidade extraordinária. Como educadores e formadores de futuros profissionais, temos a responsabilidade de preparar estudantes que sejam tecnologicamente competentes, eticamente responsáveis e profundamente humanos em sua abordagem ao cuidado. O caminho à frente exige adaptação contínua, investimento em recursos e, acima de tudo, uma visão clara de que a tecnologia deve servir ao propósito maior da Fonoaudiologia: melhorar a qualidade de vida das pessoas por meio do cuidado especializado com a comunicação humana. Neste contexto, a Unicamp permanece comprometida com a excelência na formação de fonoaudiólogos preparados para os desafios e oportunidades do século XXI.

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