Conteúdo principal Menu principal Rodapé

A estudante Sophia de Alcantara, do programa Pesquisador em Medicina (MD-PhD) da Faculdade de Ciências Médicas (FCM) da Unicamp, foi premiada com o título de melhor trabalho de Ciências Básicas no Congresso Brasileiro de Atualização em Endocrinologia e Metabologia de 2025. Ela investigou o papel do microRNA-150-5p e do gene ZEB1 no câncer de tireoide, com ênfase em sua relevância para diagnóstico e agressividade tumoral. A pesquisadora, que integra o Laboratório de Genética Molecular do Câncer (GEMOCA), é orientada pela docente Laura Ward, do Departamento de Clínica Médica da FCM.

Os resultados da análise in silico indicam uma interação entre o microRNA e o gene, sugerindo grande potencial para aprimorar a estratificação de risco, evitando cirurgias desnecessárias e permitindo tratamentos mais personalizados. O trabalho também contribui para o desenvolvimento de biomarcadores moleculares que podem revolucionar o manejo clínico do câncer de tireoide.

“Receber o prêmio foi uma honra imensa — não apenas pelo reconhecimento acadêmico, mas pelo que ele simboliza. Este foi o meu primeiro trabalho premiado, e eu me sinto profundamente feliz e emocionada. Como mulher negra na ciência, esse momento representa muito mais do que uma conquista individual: é um marco de representatividade e visibilidade para trajetórias que, historicamente, enfrentam inúmeros desafios para ocupar esse espaço. Tenho muito orgulho de representar minha universidade e o nosso compromisso com a ciência de excelência, ética e impacto social”, declarou a aluna.

Para Sophia, ver uma pesquisa desenvolvida por uma médica em formação com o olhar clínico aliado ao rigor científico fortalece sua convicção de que a ciência translacional tem poder real de transformação na saúde pública. Ela afirmou ser gratificante ver que há espaço para valorizar a pesquisa feita por jovens pesquisadores e, mais ainda, que essa ciência está sendo compartilhada, discutida e reconhecida em alto nível.

“Esse prêmio é um estímulo não só para mim, mas para todos os estudantes que sonham em fazer diferença através da ciência. Ele mostra que estamos no caminho certo — e que vale a pena persistir. A graduação e a pós-graduação podem ter (e muitas vezes têm) momentos de sentimento de solidão e não pertencimento”, finalizou a aluna.

Mulher negra em pé atrás de um púlpito, falando ao microfone durante uma apresentação em congresso. Um notebook HP está à sua frente e no fundo aparece um telão com textos parciais do evento.
Sophia também apresentou trabalho oral no congresso./ Foto: divulgação

Para Laura Ward, o trabalho de Sophia é inovador, uma vez que mostra um instrumento capaz de encontrar biomarcadores importantes para o diagnóstico e para a avaliação de agressividade dos tumores tireoidianos. A ideia é desenvolver estratégias mais precisas e personalizadas para diagnosticar e manejar o câncer de tireoide.

“Em primeiro lugar, é preciso distinguir quais são os tumores malignos na imensa população de nódulos que afetam a glândula. Apesar de essas formações serem muito frequentes, a maior parte dos nódulos é benigna. Com a popularização do uso de métodos muito sensíveis, como o ultrassom cervical, muitas pessoas acabam tendo o diagnóstico de um nódulo na sua glândula”, declarou Laura.

Atualmente, os médicos realizam uma punção com agulha para extrair células do nódulo e, com base nessa citologia, verificar se ele é benigno ou maligno. Em parte dos casos, porém, não é possível afirmar com certeza a natureza dessas lesões. Entre os cânceres de tireoide, a grande maioria evolui de forma lenta e, muitas vezes, sequer é preciso fazer cirurgia. Nódulos pequenos, com cerca de 1,5 cm de diâmetro, quando apresentam características específicas, podem ser apenas observados. No entanto, existem tumores mais agressivos que evoluem, podendo se espalhar para linfonodos e até o pulmão, e, em poucos casos, levar ao óbito.

“O que a Sophia mostrou foi que, utilizando uma série de ferramentas de bioinformática que já havíamos validado em trabalho anterior, somos capazes de identificar variantes gênicas que podem indicar se os nódulos são benignos ou malignos, além de caracterizar a agressividade dos cânceres. Esse trabalho oferece, portanto, uma nova possibilidade para a descoberta de biomarcadores, sendo uma ferramenta extremamente importante e com potencial para aplicação em larga escala do ponto de vista da saúde pública”, disse Laura.

No congresso, Sophia também apresentou trabalho oral que investigou, por meio de análises computacionais, o impacto de polimorfismos do gene SOD2, que codifica uma enzima antioxidante com função no controle do estresse oxidativo na doença de Graves. Foram identificados polimorfismos que podem comprometer a função da SOD2 e intensificar o dano celular, contribuindo para a gravidade da doença. Essas alterações têm potencial como biomarcadores para estratificação de risco na doença de Graves.

Realizado pela Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia, o Congresso Brasileiro de Atualização em Endocrinologia e Metabologia (CBAEM) ocorreu entre os dias 3 e 6 de setembro, em Gramado (RS). Reconhecido como um dos principais eventos da especialidade na América Latina, o congresso reuniu especialistas e profissionais para a discussão de avanços científicos e dos desafios contemporâneos da área.

Mulher negra sorridente segura um certificado com as duas mãos em frente a um palco iluminado com o logotipo do CBAEM 2025. Ela veste casaco preto e cachecol vermelho, e usa um crachá no pescoço.
Reconhecimento à aluna do MD-PhD: um marco para trajetórias antes apagadas./ Foto: divulgação
Ir para o topo