O residente médico em Psiquiatria da Faculdade de Ciências Médicas (FCM) da Unicamp, Felipe José Santaella, participou do 25º Congresso Mundial de Psiquiatria, realizado em Praga, República Tcheca, onde apresentou quatro trabalhos — dois orais e dois pôsteres. O residente também conquistou o primeiro lugar em um desafio clínico, abordando a temática da justiça epistêmica. O evento foi promovido pela Associação Mundial de Psiquiatria (WPA).
A primeira competição de 3 minutos da WPA foi uma sessão interativa ao vivo, composta por uma série de apresentações curtas, com o objetivo de aprimorar as habilidades de comunicação de psiquiatras em início de carreira (ECP – Early Career Psychiatrists). O formato busca incentivar esses profissionais a explicar seu tema de forma clara e concisa, aprimorando a entonação vocal e a capacidade de capturar a atenção do público. Após cada apresentação, havia dois minutos para perguntas e respostas da audiência.
Felipe conquistou o primeiro lugar com um trabalho sobre a importância da justiça epistêmica, conceito filosófico que lida com a credibilidade do conhecimento, combatendo a injustiça que ocorre quando o saber de certos grupos é desvalorizado. O trabalho contou com o auxílio do professor José Eduardo Porcher (PUC-RJ), que também colaborou no estudo sobre religiosidade apresentado.

“Ele se relaciona com o tema do congresso de 2025, ‘O papel da psiquiatria em um mundo em transformação’, no sentido de apontar como precisamos estar atentos em nosso discurso em saúde mental, para não reproduzir preconceitos como machismo, racismo e, ao mesmo tempo, fornecer conceitos que podem auxiliar a saúde mental das pessoas. Também dialoga com os trabalhos de certa maneira, pois trata de temas que raramente ganhariam visibilidade antes”, explicou o residente.
Para Felipe, o prêmio representou a materialização de um sonho, não apenas individual, mas também ligado à instituição. “Isso demonstra o quanto o que a gente faz na Unicamp mantém sua essência boa e de qualidade. Se não fosse por minha formação crítica, provavelmente não teria conquistado isso”, destacou.
Como vencedor, Felipe recebeu isenção da taxa de inscrição para o Congresso Mundial de Psiquiatria de 2026 e a oportunidade de escrever um artigo para o BJPsych Advances — periódico de educação médica continuada do Royal College of Psychiatrists. Atualmente, ele realiza estágio na Universidade de Heidelberg, na Alemanha, acompanhado pelo professor Thomas Fuchs, chefe da seção “Psicopatologia e Psicoterapia Fenomenológica” e professor de Fundamentos Filosóficos da Psiquiatria na instituição.

“A vivência internacional é, antes de mais nada, a possibilidade de olhar com carinho a forma como eu penso na minha formação. E não só isso, mas olhar também quais são as potencialidades e, principalmente, as especificidades que a gente tem com o nosso Sistema Único de Saúde. Então, é justamente usar o estágio de uma forma crítica para trazer conhecimento e retorno para a universidade pública”, declarou sobre a experiência.
Trabalhos apresentados
Felipe foi primeiro autor nos quatro trabalhos que apresentou. Os demais autores são da Unicamp, exceto quando indicado:
- Apresentação oral: “A integração da equipe de consultório na rua à residência em psiquiatria desenvolve competência sobre população em situação de rua e determinantes sociais no Brasil”. Autores: Lais Marques, Felipe Barros, Arthur Tolentino, Amélia Silva, Ugo Caramori.
- Apresentação oral: “Apoio integrado em saúde mental, assistência social e diversidade para reduzir a evasão universitária na Unicamp”. Autores: Lais Marques, Adriane Pelissoni e Tania de Mello.
- Relato de experiência: “Vocação espiritual e negociação de identidade em uma adolescente afro-brasileira com episódios funcionais semelhantes a crises epilépticas”. Autores: Marina Guitti de Souza, Lais Marques, Arthur Tolentino, Felipe Barros, Laura Vieira, Karina Oliveira e José Eduardo Porcher (PUC-RJ).
- Relato de experiência: “O pensar em psiquiatria: diálogos entre conceitos filosóficos e dilemas clínicos na formação inicial da residência”. Autores: Marina Guitti de Souza, Felipe Barros, Arthur Tolentino e Lais Marques.
“Eu acredito que a psiquiatria é uma ciência que não se faz sozinho, e o que o ambiente universitário nosso, da Unicamp, tem de diferente, é que os nossos professores não só ensinam o conhecimento para a gente, mas também a questioná-lo e a intercambiá-lo, então é um conhecimento que é feito justamente com outras pessoas”, concluiu Felipe.

Demais participações da FCM no congresso
O preceptor da residência em Psiquiatria, Amilton dos Santos Júnior, apresentou trabalhos sobre relato de caso nosológico de desnutrição e transtorno de personalidade dependente; transtornos mentais entre indivíduos de minorias de gênero; relações parentais patológicas; e cuidados de saúde inclusivos para pessoas trans, travestis, não binárias e pacientes com diferenças no desenvolvimento sexual (DDS).
Participou do congresso ainda o professor Mário Eduardo Pereira, do Departamento de Psiquiatria. Atualmente secretário da seção Psychoanalysis in Psychiatry, ele apresentou projetos desenvolvidos pela divisão nos últimos dois anos, além de propostas futuras voltadas à presença e colaboração da Psicanálise na Saúde Mental. Em 2024, o Congresso Internacional da Seção ocorreu na Unicamp.
O congresso
O 25º Congresso da World Psychiatric Association teve como tema “O papel da psiquiatria no mundo em transformação”. Segundo a WPA, diante das mudanças globais, a saúde mental permanece na vanguarda das prioridades da área, exigindo abordagens inovadoras e abrangentes, envolvendo tratamento baseado em evidências, prevenção e promoção de estilos de vida saudáveis. Com suas 70 seções científicas, a instituição promove o trabalho colaborativo em áreas especializadas da psiquiatria, realizando congressos anuais e eventos regionais e temáticos, reunindo líderes globais em saúde mental e oferecendo espaços de aprendizado e colaboração compartilhada.