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O dia 19 de setembro foi marcado por uma celebração dupla no auditório da Faculdade de Ciências Médicas (FCM) da Unicamp: os 35 anos da Lei 8.080, que regulamenta o Sistema Único de Saúde (SUS), e os 60 anos do Departamento de Saúde Coletiva (DSC). O evento contou com a presença do ministro da Saúde, Alexandre Padilha, além de docentes, estudantes e autoridades da universidade.

A cerimônia reuniu homenagens às gerações que construíram o departamento e o movimento sanitarista no país. Os discursos relembraram a trajetória do DSC, desde sua origem como Medicina Preventiva e Social, passando pelos traumas da ditadura militar, até sua contribuição fundamental para a criação e defesa do SUS. Foi destacada a luta pela saúde como direito universal e a importância do departamento na formação de quadros acadêmicos e políticos para o país.

Na mesa de autoridades estiveram o professor do DSC, Gastão Wagner, o diretor da FCM, Cláudio Coy, o chefe do DSC, Sérgio De Lucca, o reitor Paulo Cesar Montagner e o ministro Alexandre Padilha. A solenidade também contou com a apresentação de um quarteto de cordas da Orquestra Sinfônica da Unicamp, que abriu as atividades.

Gastão Wagner lembrou que o DSC nasceu em 1965, com a proposta de renovar a formação médica a partir de conceitos como saúde pública, visão social e medicina comunitária. Para isso, o departamento incorporou cientistas sociais, como a antropóloga Ana Maria Canesqui e o sociólogo Everardo Nunes. Já em 1975, sob perseguição da ditadura, quatro professores foram demitidos — entre eles Sérgio Arouca e Anamaria Tambellini — e o departamento permaneceu sob intervenção por quase uma década. Uma segunda geração, liderada por Nelson Rodrigues dos Santos e Marilisa Berti Barros, organizou a resistência e ajudou a restaurar a democracia universitária, fortalecendo o corpo docente e a produção científica.

Um grupo de pessoas sorridentes posa para a foto em um ambiente interno, com uma parede vermelha ao fundo. No centro, um homem de óculos e camisa branca segura um jornal intitulado Pato Lógico, que traz como manchete “Greve da Medicina e a Luta contra a Privatização”. Ao redor dele, estudantes de diferentes idades e estilos fazem poses, alguns mostrando o sinal de paz e outros apenas sorrindo para a câmera.
Ministro da saúde, acompanhado de estudantes, segura exemplar do Jornal O Patológico, do Centro Acadêmico Adolfo Lutz

Entre as marcas do departamento, Gastão destacou a passagem da medicina comunitária para a Saúde da Família e Comunidade; a relevância da epidemiologia; a contribuição para a formulação do SUS e para a consolidação da Saúde Coletiva no Brasil; a criação de uma das primeiras pós-graduações da área, preocupada com clínica, gestão hospitalar e organização do trabalho; a defesa de uma ética centrada em usuários e profissionais; e a proposta da Clínica Ampliada, que valoriza a subjetividade. “O contexto é desafiador para o SUS e para a democracia. Há ataques à universidade, à ciência e à saúde pública. Precisamos nos renovar. Desde o início, o DSC se manteve multiprofissional, interdisciplinar e interparadigmático, estimulando o diálogo entre diferentes racionalidades científicas e práticas”, afirmou.

Sérgio De Lucca ressaltou que, com o tempo, novas áreas foram incorporadas ao DSC, como saúde do trabalhador, saúde ambiental, saúde da família e comunidade e saúde mental. “A história do departamento é marcada pela luta política e por ações contra-hegemônicas, em diálogo com o movimento sanitarista e movimentos sociais, na defesa da saúde como direito de todos e na construção do SUS, o maior sistema público de saúde do mundo”, afirmou. Para ele, os próximos desafios envolvem enfrentar os impactos das mudanças climáticas na saúde, os efeitos do neoliberalismo, a expansão de tecnologias que ampliam formas precárias de trabalho e o agravamento dos problemas de saúde mental, intensificados após a pandemia. “São questões que exigem respostas intersetoriais e interdisciplinares”, completou.

O diretor da FCM, Cláudio Coy, destacou a importância do DSC para a faculdade e para a universidade, lembrando que teve aula com a primeira geração de docentes do departamento. Ressaltou sua influência decisiva nas políticas de saúde pública, especialmente na criação do SUS e no desenvolvimento dos programas de pós-graduação. Por fim, agradeceu a organização do evento e destacou que a atual geração de professores e estudantes tem a responsabilidade de manter o departamento como referência nacional.

O reitor Paulo Cesar Montagner afirmou que participar da comemoração foi motivo de honra e destacou a relevância da Unicamp para a saúde de uma macrorregião com cerca de cinco milhões de pessoas. Lembrou ainda que o DSC, com 60 anos, é mais antigo do que a própria fundação formal da Unicamp, em 1966. “Hoje é um dia importante para a Unicamp e para o DSC. A FCM tem impacto decisivo no ensino e na pesquisa, e o departamento formou gerações de professores que contribuíram para o que hoje conhecemos como SUS”, afirmou.

Auditório cheio com pessoas em pé e sentadas, sorrindo e olhando para a câmera. Na frente, um grupo de oito pessoas posa lado a lado, segurando uma bandeira branca com o logotipo do SUS em azul. O ambiente é iluminado, com fileiras de assentos e escadas laterais, transmitindo clima de evento institucional ou celebração.
Sérgio De Lucca, Paulo Cesar Montagner, Alexandre Padilha, Gastão Wagner, Cláudio Coy, Rosana Onocko e Márcia Bandini

Em seguida, o ministro Alexandre Padilha proferiu conferência. Formado em Medicina em 1997 e doutor em Saúde Coletiva em 2022, ambos pela FCM, Padilha destacou a emoção de retornar à instituição. Citou a expressão de Gastão Wagner, “buscar o céu”, como metáfora da utopia que orienta a construção do SUS. “O SUS se tornou a maior e mais capilarizada política pública do Estado brasileiro no período pós-redemocratização. Desde 1988, assumimos um desafio que nenhum país com mais de 100 milhões de habitantes havia enfrentado, e que até hoje permanece inédito”, declarou.

O ministro homenageou quatro figuras marcantes do DSC: Sérgio Arouca, símbolo da reforma sanitária; Nelson Rodrigues dos Santos, a “voz mais potente” em defesa do SUS; Marilisa Barros, referência na epidemiologia e na produção de dados; e Gastão Wagner, descrito como o “Charles Chaplin e Caetano Veloso da saúde pública”, pela criatividade e inovação.

Padilha também apontou os quatro pilares para a construção do SUS pós-pandemia: cultura, com o enfrentamento do negacionismo; reforma institucional, para reduzir filas, fortalecer a atenção primária e criar marcos legais diante de novas crises sanitárias e das mudanças climáticas; tecnologia, com o avanço de inovações assistenciais; e reposicionamento da agenda, reconhecendo a saúde como motor do desenvolvimento nacional e reduzindo a dependência externa.

O ministro encerrou sua intervenção que o departamento teve a habilidade de se apropriar de um conceito conservador — a ideia de que a saúde pública era apenas para as comunidades mais pobres — e o transformou em um projeto muito mais amplo.  O financiamento e a lógica da medicina comunitária inicial não incluíam discussões sobre hospitais, rede, regulação de medicamentos, produção ou formação profissional, sendo o objetivo apenas organizar o cuidado em pequenas bases comunitárias. Contudo, o DSC transformou radicalmente esse projeto por meio de sua interação e reflexão, sendo decisivo na construção do SUS.

Auditório lotado visto em perspectiva lateral. À esquerda, uma pessoa está em um púlpito com a bandeira do SUS, fazendo uma fala. No palco, há arranjos de flores e uma fotógrafa registrando o momento. À direita, o público ocupa quase todas as cadeiras, atento à apresentação, com algumas pessoas usando celulares ou fazendo anotações. O ambiente é amplo, com teto branco, paredes vermelhas e iluminação difusa.
Padilha discursa em auditório lotado em seu retorno à alma mater

“Enfrentaram a ditadura, como já foi lembrado, e não recuaram em nenhum momento. Depois, veio outra geração que não apenas lançou as bases para a implementação do SUS, mas também acumulou experiência prática. Esse departamento foi, sem dúvida, a principal referência naquele período para refletir sobre os desafios de construir novos serviços de saúde, atuar nos hospitais, reorganizar equipes e integrar a prática clínica sem perder de vista o debate da sociologia, os dados da epidemiologia e as questões da saúde do trabalhador. Enfrentou, assim, um universo novo e deu conta desse desafio. Desde então, segue exercendo uma reflexão crítica sobre os novos rumos do SUS, da prática em saúde e da produção de conhecimento”.

“A gente conta com esse departamento e essa universidade, para nos ajudar a enfrentar os desafios da construção desses quatro pilares de um SUS pós-pandêmico, que nós temos pelos próximos 35 anos do SUS e pelos próximos 60 anos do Departamento de Saúde Coletiva. Muito obrigado por terem me convidado para estar aqui. Estou muito emocionado e muito feliz”, encerrou Padilha.

Transmissão do evento: https://youtube.com/live/4UIvDDOtzSY

Vídeo: https://www.youtube.com/watch?v=IolTwcxBPkM (Créditos: Marcelo Oliveira/ARPI)

Outras fotos do evento: https://www.flickr.com/photos/ministeriodasaude/albums/72177720329133720/ (Créditos: João Risi/MS):

Um grupo de pessoas posa sorridente em frente a uma tela de projeção que exibe os dizeres “35 anos da Lei 8.080/90” e “60 anos do DSC FCM Unicamp”. Algumas pessoas seguram uma camiseta e uma bandeira brancas com o logotipo do SUS em azul. O clima é de celebração e confraternização, com participantes próximos uns dos outros no palco de um auditório.
Parte dos pesquisadores, professores e servidores do DSC fizeram fotos com a autoridade do Ministério da Saúde
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