Conteúdo principal Menu principal Rodapé
Vista da Avenida Francisco Glicério, em Campinas, durante o período de lockdown/Foto: Luciano Claudino - Código19 Fotojornalismo
Vista da Avenida Francisco Glicério, em Campinas, durante o período de lockdown/Foto: Luciano Claudino – Código19 Fotojornalismo

Contrariando expectativas sobre segurança no trânsito durante o período mais crítico da pandemia de Covid-19 – quando o volume de tráfego nas ruas de Campinas diminuiu drasticamente – uma pesquisa realizada pelo estudante de doutorado, Vitor Favali Kruger, no âmbito do Programa de Pós-Graduação em Ciências da Cirurgia da Faculdade de Ciências Médicas da Unicamp, revelou um fenômeno contraditório: ao invés de diminuir com o lockdown, a taxa de mortalidade aumentou significativamente.

A pesquisa, intitulada “O Paradoxo da Pandemia: Tendências da Mortalidade no Trânsito durante a COVID-19 em Campinas”, analisou dados de quase 18 mil acidentes entre 2019 e 2023 e mostrou que apesar de uma redução de 32% no volume de tráfego, a taxa de mortalidade saltou de 10,46 para 13,76 mortes por 100 mil habitantes. E que a frequência de colisões fatais aumentou, passando de uma morte a cada 2,9 dias para uma morte a cada 2,0 dias.

“A redução do tráfego conduziu a um aumento da mortalidade. Comportamentos de risco estabelecidos durante a pandemia tornaram-se permanentes ao invés de temporários, afetando particularmente motociclistas jovens do sexo masculino”, explicou Kruger.

Vitor Favali Kruger e Gustavo Pereira Fraga, autor e orientador da tese de doutorado intitulada O Paradoxo da Pandemia: Tendências da Mortalidade no Trânsito durante a COVID-19 em Campinas, defendida na FCM, no dia 28 de agosto.
Vitor Favali Kruger e Gustavo Pereira Fraga, autor e orientador da tese de doutorado intitulada O Paradoxo da Pandemia: Tendências da Mortalidade no Trânsito durante a COVID-19 em Campinas, defendida na FCM, no dia 28 de agosto.

O orientador da pesquisa, o professor do Departamento de Cirurgia da FCM, Gustavo Pereira Fraga, destacou a gravidade dos achados e a mudança de perfil das vítimas. “Verificou-se um paradoxo pandêmico. As ruas mais vazias, que deveriam ser mais seguras, encorajaram excessos. O maior risco emergiu da combinação entre consumo de álcool e direção noturna, uma tríade letal que amplifica sinergicamente o risco de sinistros fatais”, afirmou.

Os motociclistas foram o grupo mais vulnerável, representando 43,1% do total de óbitos no período do estudo, percentual que subiu para 47% na fase pós-pandêmica. A frota de motocicletas na cidade cresceu 15,6% entre 2019 e 2023, reflexo do aumento das entregas por delivery e da busca por transporte individual durante a crise sanitária.

A análise estatística identificou que a combinação de álcool e direção noturna foi o fator de risco mais perigoso, aumentando a chance de um acidente ser fatal em 120%. Dirigir à noite isoladamente aumentou o risco em 72%. Ser do sexo masculino também mostrou ser um fator de risco significativo, corroborando as estatísticas globais de que homens se envolvem em mais acidentes fatais.

O estudo conclui que, em vez de voltarem aos níveis pré-pandêmicos, os comportamentos de risco se mantiveram altos mesmo após o fim das restrições, configurando um preocupante “novo normal” na segurança viária de Campinas.

“Os resultados visam informar cientificamente políticas de segurança no trânsito fundamentadas em evidências. É urgente uma abordagem integrada que envolva profissionais de saúde, engenheiros, educadores e gestores públicos para reverter este cenário”, defendeu Vitor Kruger.

O pesquisador reforçou, também, a necessidade de ações direcionadas. “Esta pesquisa é um catalisador para o engajamento de médicos e profissionais de saúde no enfrentamento da mortalidade no trânsito, uma questão que é, fundamentalmente, de saúde pública. Precisamos de intervenções específicas, como fiscalização noturna estratégica e uma reformulação na formação dos motociclistas profissionais, para proteger nossas vidas”, finalizou.

Ir para o topo