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O médico cirurgião Antônio Benedicto Prado Fortuna está sentado com o braço direito apoiado na mesa. Ele usa terno e gravata e sorri para a foto. Ao fundo da imagem é possível notar a sua bengala apoiada na parede,
O médico cirurgião Antônio Benedicto Prado Fortuna, durante visita à Diretoria da FCM realizada no dia 3 de abril de 2025/Foto: Camila Delmondes

No dia 3 de abril de 2025, a Diretoria da Faculdade de Ciências Médicas (FCM) da Unicamp recebeu a visita do decano Antônio Benedicto Prado Fortuna, médico cirurgião responsável pela implantação da Disciplina de Cirurgia Cardíaca da FCM em 1963, cadeira que coordenou até 1989. Na ocasião, o especialista visitou a faculdade para a entrega da obra intitulada Contribuição à História da Disciplina de Cirurgia Cardíaca FCM-Unicamp, de sua autoria.

Membro vitalício da Sociedade Brasileira de Cardiologia e Fellow Emérito do American College of Cardiology, Fortuna formou-se em Medicina pela UFPR (1953), com especializações nos EUA: Internship no Christ Hospital (1954), residência em Cirurgia Geral no American Hospital (Chicago), sob orientação de Max Thorek, e em Cirurgia Cardíaca no Hahnemann Hospital (Filadélfia), com Charles P. Bailey. Doutor pela UFPR (1965), obteve a Livre Docência em Cardiologia Clínica (Puccamp, 1973) e em Cirurgia Cardíaca (Unicamp, 1983).

Com trajetória marcante na área médica e acadêmica, com contribuições fundamentais para o desenvolvimento da Medicina em Campinas, Fortuna participou ativamente da implantação da FCM, à época, Faculdade de Medicina de Campinas, na Santa Casa de Misericórdia, garantindo as condições hospitalares necessárias e viabilizando o convênio entre a Unicamp e àquela instituição. Além disso, contribuiu significativamente nos primórdios do Departamento de Cirurgia e do Departamento de Clínica Médica.

Por 25 anos (1965-1990), coordenou a Disciplina de Cirurgia Cardíaca da FCM, obtendo sua Livre-Docência em 1980 e realizando a primeira cirurgia cardíaca com circulação extracorpórea no Hospital de Clínicas em outubro de 1986. Na PUC-Campinas, foi Professor Titular de Cardiologia Clínica, de 1974 a 2002, consolidando seu legado como um dos pioneiros da Medicina na região.

Na ocasião da visita a Unicamp, Fortuna explicou que o seu livro, além de atender ao convite do presidente da Associação de Ex-alunos e Amigos da FCM (Alumni), Jorge Curi, preenche a ausência de referências disponíveis sobre a história da Disciplina de Cirurgia Cardíaca da FCM e traz luz às poucas e contraditórias informações existentes sobre a história do Departamento de Cirurgia.

“O website do atual Departamento de Cirurgia ignora, assim por completo, o histórico período de implantação na Santa Casa de Misericórdia, em 1965, bem como o produtivo período que se seguiu à criação da “Universidade Estadual de Campinas”, em 5 de outubro de 1966. Por sua vez, o website do atual Departamento de Clínica Médica, que passou pela mesma experiência, fiel à verdade histórica, afirma que o Departamento de Clínica “foi fundado em 1965, quando a Primeira Turma chegou ao 3º ano de graduação”, observa o ex-chefe do Departamento de Cirurgia da FCM.

Aos 97 anos, mantendo lucidez e paixão pela sua área de atuação, Antônio Benedicto Prado Fortuna revisitou para a sessão + História do Boletim da FCM, marcos de sua trajetória. Seu relato foi mantido na íntegra visando à preservação da memória oral. Confira, abaixo:

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Detalhe da mão do médio cirurgião Antonio Prado Benedicto Fortuna. Ele autografa um livro de sua autoria para a Faculdade de Ciências Médicas da Unicamp. Na imagem é possível ler à Faculdade de Ciências Médicas...
Dedicatória especial à Faculdade de Ciências Médicas da Unicamp/Foto: Camila Delmondes

A experiência mais marcante de minha longa trajetória profissional foi, sem dúvida alguma, a de ter desencadeado condições, na área hospitalar, em Campinas, que permitiram a implantação da Faculdade de Medicina, na Santa Casa, em 1965, e a de ter participado ativamente de seu desenvolvimento até– já como “Faculdade de Ciências Médicas”, em 1985 – ser transferida para o atual Hospital de Clínicas da Unicamp.

Reporto-me à histórica campanha liderada pelo jornalista Luso Ventura, em 1946, pela criação de uma Faculdade de Medicina em Campinas. Essa memorável campanha, que durou cerca de 17 anos, foi uma campanha eminentemente política. Em nenhum momento, se pensou na necessidade óbvia de um prédio para abrigar o Ciclo Básico e muito menos de um Hospital onde o Ciclo Clínico viesse a ser adequadamente ministrado. Assim sendo, quando, em dezembro 1962, promulgada a Lei Estadual que criava a Universidade de Campinas e autorizava o funcionamento de uma Faculdade de Medicina a partir de janeiro de 1963, esta teve que ser instalada precariamente no quarto andar do prédio ainda em construção da Maternidade de Campinas. Dois anos mais tarde, quando a “Primeira Turma”, tendo concluído o Ciclo Básico, a Faculdade de Medicina passou a necessitar com urgência de um Hospital para dar início ao Ciclo Clínico. Acontece que, até aquele momento, a Universidade não dispunha de um. O único na cidade que poderia ser adaptado para atender a essa urgente necessidade era o da Santa Casa de Misericórdia, por ser um hospital geral, dispondo de leitos destinados ao atendimento de pacientes desprovidos de recursos financeiros.

Os primeiros entendimentos entre a Reitoria da Universidade e a Administração da Santa Casa não foram bem-sucedidos. A maioria do corpo clínico da Santa Casa havia se posicionado formalmente contra um eventual convênio entre as duas instituições. Os “Chefes de Enfermarias” não queriam perder a posição de prestígio adquirida como fruto de muitos anos de trabalho não remunerado e dedicação a pacientes, na época, considerados “indigentes”. Diante desse impasse, o então o Reitor da Universidade, Mario Degni, resolveu procurar pessoalmente o Diretor Clínico da Santa Casa. Na ocasião, eu era o Diretor Clínico.

Atendendo ao pedido do professor Mario Degni, convencido da importância para Campinas de um convênio entre as duas Instituições, empenhei-me com afinco junto ao Corpo Clínico e respectivos Chefes das várias Enfermarias para que, num gesto de desprendimento, pusessem seus cargos à disposição da Faculdade de Medicina. Não foi trabalho fácil, mas, no final, obtivemos êxito, viabilizando a assinatura do convênio “Santa Casa de Misericórdia/Universidade de Campinas”. Convênio este que duraria 20 anos.

Uma vez firmado o referido Convênio, a Faculdade de Medicina chegou à Santa Casa em 1965 para dar início ao Ciclo Clínico. No comando dessa importante missão, veio o renomado oftalmologista do Instituto Penido Burnier, Antonio Augusto de Almeida, Diretor da Faculdade de Medicina. Para implantar o Departamento de Cirurgia, veio o professor Mario Degni, livre docente da Universidade de São Paulo, “Professor Catedrático” (título vitalício) da Universidade de Porto Alegre, e que na época, acumulava a função de Reitor da Universidade de Campinas.

A Faculdade de Medicina encontrou na Santa Casa, entre arcaicas Enfermarias, as modernas instalações do recém-inaugurado “Instituto de Cardiologia de Campinas”. Este, considerado na época um do mais modernos do país, fora concebido e planejado por mim com o objetivo de criar condições até então não existentes em nenhum hospital de Campinas para realização de procedimentos de alta complexidade.

Departamento de Clínica Médica

No período inicial da implantação da Faculdade de Medicina na Santa Casa, o Departamento de Clínica Médica não existia.  A grande maioria dos alunos da primeira turma teve iniciação clínica nas enfermarias do Instituto de Cardiologia, aproveitando pacientes já investigados, inclusive com estudo hemodinâmico. Cabia a mim, como Diretor do Instituto, passar visitas com os estudantes, ensinando-lhes ausculta cardíaca, interpretação de traçados e conduta terapêutica. Esse esquema funcionou até meados do primeiro semestre, quando o professor Luiz Carlos da Fonseca foi contratado para implantar o Departamento de Clínica Médica. Pouco tempo depois, Fonseca se afastou definitivamente da Universidade de Campinas. Para substituí-lo, foi contratado o professor Sílvio dos Santos Carvalhal, da Universidade Federal de São Paulo (Escola Paulista de Medicina).

Ao assumir a Chefia do Departamento de Clínica Médica, em 1965, o professor Silvio Carvalhal, constatou que o “Instituto de Cardiologia”, sob minha direção, já era na realidade, um Serviço de Cardiologia plenamente estruturado e em funcionamento. Dispunha de bem-organizado Ambulatório, atendendo em média a 400 pacientes por mês, duas amplas enfermarias e quatro quartos individuais. Contava ainda com aparelhos para radioscopia, eletrocardiografia e veto cardiografia. Dispunha de ampla sala para reuniões acoplada à pequena biblioteca especializada e ativo “Centro de Estudos”, promovendo reuniões científicas mensais. Contava ainda com moderno Laboratório de Hemodinâmica, realizando em média quatro cateterismos cardíacos por semana e um Serviço de Cirurgia Cardíaca, já realizando cirurgias sob visão direta com auxílio da circulação extracorpórea.  A primeira cirurgia desse tipo já tinha sido realizada em Campinas por minha equipe no dia 20 de abril de 1964.  Nessas condições, o professor Silvio Carvalhal considerou que o Departamento de Clínica Médica, em implantação, já podia contar com uma disciplina, a “Disciplina de Cardiologia” e atribuiu a mim a chefia da mesma, cargo que exerci até janeiro de 1971, quando o Conselho Departamental   passou a exigir, para o exercício da chefia de qualquer Disciplina, o “Regime de Trabalho” em Tempo Integral.

Departamento de Cirurgia

Na fase inicial da implantação da Faculdade de Medicina na Santa Casa, coube ao professor Mario Degni criar e organizar o Departamento de Cirurgia. O professor Degni, residindo em São Paulo acumulava, na época, o cargo de Reitor da Universidade. Residindo em São Paulo, vinha três vezes por semana a Campinas. Chegava cedo, pela manhã, ia direto à Reitoria, ainda no quarto andar do prédio inacabado da Maternidade de Campinas. Terminado o expediente da Reitoria, se dirigia à Santa Casa onde, de início, despachava medidas administrativas e, em seguida, passava visita didática à enfermaria. À tarde, ministrava aula teórica ou fazia demonstração de técnica cirúrgica, operando um paciente.

“Chefe de Clínica”

No acúmulo de funções, e não residindo em Campinas, o professor Mario Degni logo sentiu a necessidade do Departamento de Cirurgia,embora em implantação, contar com um “Chefe de Clínica”. Naquela época, cabia a um Chefe de Clínica tomar medidas administrativas e, na ausência do titular, responder pelo Departamento.

Levando em consideração o fato de eu residir em Campinas, onde já era conhecido cirurgião cardíaco e ocupar o estratégico cargo de Diretor Clínico da Santa Casa, o professor Mario Degni houve por bem atribuir a mim a função de “Chefe de Clínica do Departamento de Cirurgia”. Do ponto de vista acadêmico, justificou a escolha considerando ser eu possuidor de sólida formação cirúrgica adquirida durante cinco anos nos Estados Unidos, dos quais dois como residente em Cirurgia Geral no Serviço do renomado professor Max Thorek, fundador do Colégio Internacional de Cirurgiões; e mais dois outros como residente em Cirurgia Cardíaca no Serviço de Charles Bailey, pioneiro mundial da cirurgia cardíaca contemporânea.

Curiosamente, entre as primeiras medidas administrativas como Chefe de Clínica, foi tornar obrigatório o até então facultativo uso de uniforme e sapatilhas (propé) no centro cirúrgico. Essa medida que pode parecer descabida nos dias de hoje, na época, encontrou resistência. A maioria dos cirurgiões e anestesistas adentravam o centro cirúrgico com o mesmo traje usado nas ruas. Apenas deixavam no vestiário o paletó e a gravata.

Ainda como “Chefe de Clínica”, fui incumbido pelo professor Mario Degni a padronizar “condutas e rotinas” a serem seguidas no Departamento de Cirurgia, em implantação.  Para isso, fui buscar subsídios com o professor Rui Ferreira Santos, chefe do Departamento de Cirurgia da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto (USP). Solicitou-me ainda, o professor Mário Degni, sugestão de nomes de cirurgiões residentes em Campinas que poderiam ser convidados a participar como assistentes do Departamento de Cirurgia. Lembro-me dos seguintes cirurgiões que foram contratados: Pedro de Aquino, Aboim Gomes, Gustavo Murgel, Ulisses Peres, Fábio Torres, Reis Neto, Nagib Said e Pitágoras de Carvalho.

Nessa mesma época, o professor Mario Degni, atendendo a normas institucionais vigentes na ocasião, convidou o professor Enne Mansur Sadek, livre docente da Universidade de São Paulo, para o cargo de Professor Adjunto. O professor Enne Mansur Sadek foi muito bem recebido e prestou valiosa colaboração ao Departamento de Cirurgia. O professor Sadek , sendo também residente em São Paulo, minha atuação e o cargo de “Chefe de Clínica” foram mantidos.

Professor Assistente Doutor

Em virtude das responsabilidades que me vinham sendo atribuídas, o professor Mario Degni me alertou da necessidade de eu obter, sem demora, o título de “Doutor em Medicina”. Como a Universidade de Campinas não estava ainda estruturada para concessão de títulos acadêmicos, ainda em 1965, quase em “carater de urgência”, apresentei uma tese de doutoramento à Faculdade de Medicina da Universidade do Paraná. Uma vez esta tendo sido aprovada, fui o primeiro assistente do Departamento de Cirurgia a ser nomeado “Professor Assistente Doutor”.

Disciplina de Cirurgia Cardíaca

Durante o período de implantação do Departamento de Cirurgia, o Serviço de Cirurgia Cardíaca do Instituto de Cardiologia da Santa Casa de Misericórdia estava deixando gradativamente a fase da então chamada “cirurgia cardíaca clássica” ou a “céu fechado” e se firmando na fase da cirurgia cardíaca sob visão direta com auxílio da circulação extracorpórea. O primeiro caso operado em Campinas com essa técnica tinha sido no dia 20 de abril de 1964.

Colsan-Campinas

O advento da cirurgia cardíaca com auxílio da circulação extracorpórea ultrapassou, consideravelmente, a demanda habitual do Banco de Sangue

da Santa Casa. Isso nos levou a campanha para a criação da Colsan- Campinas (Sociedade Beneficente de Coleta de Sangue). A seção solene de instalação, na qual fui eleito presidente, ocorreu em outubro de 1965 na Associação Comercial e Industrial. A mesa que dirigiu os trabalhos contou com a presença, entre outras autoridades civis e militares, dos professores Mario Degni, reitor da Universidade de Campinas e Antônio Augusto de Almeida, diretor da Faculdade de Medicina. A Colsan-Campinas foi precursora do atual Hemocentro-Unicamp.

Crise na Universidade de Campinas

Ainda no ano de 1965, a Universidade de Campinas enfrentou grave crise. O Conselho Estadual de Educação deixou claro que não aceitava a existência de uma Universidade constituída de uma única unidade de ensino. Pressionado, o governador do Estado, Ademar de Barros, criou a “Comissão Organizadora da Universidade de Campinas”, presidida pelo professor Zeferino Vaz. O professor Mario Degni não recorreu da decisão do governador. Apenas pediu demissão do cargo de reitor. Por força de contrato, firmado anteriormente, continuou como chefe do Departamento de Cirurgia.

Em setembro de 1966, a Comissão Organizadora da Universidade de Campinas deu por encerrados os seus trabalhos. A 5 de outubro do mesmo ano, o general Humberto de Alencar Castelo Branco, então chefe  do governo militar, presidiu a cerimônia de lançamento da pedra fundamental do Campo Universitário, A partir desse dia, o 5 de outubro passou a ser considerado, oficialmente, a data de início da “Universidade Estadual de Campinas,” A então “Faculdade de Medicina” não foi extinta. Apenas foi incorporada a recém-criada “Universidade Estadual de Campinas” sob o nome de “Faculdade de Ciências Médicas da Unicamp”.  Em janeiro de 1968, vencido seu contrato, o professor Mario Degni retornou definitivamente para São Paulo.

Departamento de Clínica e Cirurgia

Aproveitando a vacância da chefia do Departamento de Cirurgia, o então diretor da Faculdade de Ciências Médicas, Silvio Carvalhal, propôs, como experiência pedagógica, a união dos Departamentos de Cirurgia e o de Clínica Médica, formando um Departamento, o de “Clínica e Cirurgia”.  Ao professor Silvio Carvalhal coube a chefia do “Setor de Clínica Médica” e a mim a do “Setor de Cirurgia”.

De início, o Departamento de Clínica e Cirurgia” foi muito bem recebido, principalmente, por parte dos alunos. A “correlação clínico-patológica” trazida pelo professor Silvio Carvalhal funcionava como o elo entre a propedêutica, o diagnóstico e os achados post mortem verificados e explicados durante a necropsia realizada pelo próprio Carvalhal.

Durante esse período, o Setor de Cirurgia se consolidou, marcado por grande número de candidatos que se inscreveram para defesa de tese de doutoramento. A Disciplina de Cirurgia Cardíaca gozou projeção nacional  por seu pioneirismo regional e ativa participação em congressos e publicações científicas. O Programa de Internato foi um dos mais bem avaliados pelos alunos por sucessivos anos. O “Programa de Residência” foi uns dos primeiros a ser aprovado pela Comissão Nacional de Residência quando criada em 1977.

No “Departamento de Cirurgia”, com o decorrer do tempo, foram surgindo obstáculos. Um dos primeiros foi a não permissão ao professor Silvio Carvalhal para realizar necropsias. Essas passaram a ser exclusividade do Departamento de Patologia não existente anteriormente e agora chefiado pelo professor Lopes de Faria. Com o tempo, outros interesses contrariados foram se acumulando até que em 1972, a Congregação da FCM, pressionada, votou pelo restabelecimento da autonomia administrativa dos Departamentos de Clínica Médica e do Departamento de Cirurgia.

É oportuno lembrar que,durante os quatro anos de vigência do “Departamento de Clínica e Cirurgia” (1968 – 1972), eu respondi pelo Setor de “Cirurgia”, exceto entre os meses de fevereiro a novembro de 1964, quando este cargo foi ocupado pelo professor David Rosenberg.

Ao ser restaurada a autonomia dos Departamentos, ao professor Silvio Carvalhal coube reassumir a chefia do Departamento de Clínica Médica, e a mim a chefia interina do Departamento de Cirurgia. “Interina’ pelo fato de ainda na época eu não ter ainda obtido o título de Professor Livre Docente.

Em 1973, como “chefe interino do Departamento de Cirurgia”, fui procurado pelo gastrocirurgião Luiz Sérgio Leonardi, que já ocupava o cargo de Professor Assistente Doutor, desde 1970. Ele vinha me comunicar a intenção de prestar concurso para Professor Livre-Docente. Por questão de lealdade, desejava que eu o fizesse antes dele para que eu não viesse a perder a chefia do Departamento. Agradeci seu gesto e argumentei que eu ainda não possuía número suficiente de trabalhos publicados para me submeter a um Concurso de Livre Docência. Diante disso, Leonardi prontificou-se a esperar e, mais ainda, juntamente com professor Mário Mantovani, a colaborar comigo na publicação de artigos científicos até o número suficiente para que eu me inscrevesse no concurso para Livre Docência. Agradeci a lealdade, reafirmando que ele poderia contar sempre com meu incondicional apoio.

Naquele mesmo ano, 1973, Luiz Sérgio Leonardi prestou concurso para Livre Docência em Cirurgia, qualificando-se assim para assumir a chefia do Departamento. Antes de o fazer efetivamente, convidou o professor Marcel Cerqueira Cesar Machado, Livre Docente da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo, para chefiar temporariamente o Departamento e auxiliá-lo na reestruturação administrativa, que incluiu a oficialização de várias disciplinas já de há muito existentes. Finda a tarefa, o professor Marcel retornou a São Paulo e o professor Luiz Sérgio Leonardi assumiu efetivamente a chefia do Departamento de Cirurgia.

Em 1980, submeti-me e fui aprovado em concurso público para Livre-Docência na área de Cirurgia Cardíaca da FCM. Em outubro de 1985, terminava a construção do Hospital de Clínicas em Barão Geraldo. A Faculdade de Ciências Médicas, depois de 20 anos, deixava a Santa Casa e as Disciplinas de Cirurgia Cardíaca e Cardiologia Clínica deixavam o Instituto de Cardiologia de Campinas.

A pesar das grandes dificuldades encontradas no período inicial de implantação do Hospital de Clínicas, antes mesmo da abertura oficial do Centro Cirúrgico, conseguimos, nas dependências do futuro Pronto Socorro, realizar a primeira cirurgia cardíaca com circulação extracorpórea naquele Hospital, no dia 10 de outubro de 1986.

No final de 1990, persistindo as limitações impostas à Cirurgia Cardíaca e sentindo o crescer das pressões e críticas generalizadas, inclusive por membros da minha equipe, não me restou alternativa senão a de renunciar à chefia da Disciplina e de antecipar minha aposentadoria, no que fui atendido no dia 27 de fevereiro de 1993.

Prof. Dr. Antônio Benedicto Prado Fortuna
FCM Unicamp

Campinas, 3 de abril de 2025.

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