História dos 55 anos da Disciplina de Dermatologia
O curso de Medicina da Faculdade de Ciências Médicas é o mais antigo da Universidade Estadual de Campinas. Foi inaugurado em 1963 nas dependências da Maternidade de Campinas. A partir de 1965, as especialidades médicas foram transferidas para a Santa Casa de Misericórdia de Campinas, onde permaneceram por cerca de 20 anos.
Esse foi o pano de fundo para o nascimento da Dermatologia da Unicamp, em 22 de setembro de 1967. Liderada pelo prof. dr. Raymundo Martins Castro, a especialidade contava com a colaboração do prof. dr. Nelson Guimarães Proença, dr. Flamínio de Almeida Maciel, dr. Alberto Eduardo Cox Cardoso e do hansenólogo dr. Reynaldo Quagliato, que se dividiam entre as atividades acadêmicas e assistenciais na enfermaria e nos ambulatórios ainda improvisados.
A primeira dermatologista formada pela Unicamp foi a dra Maria Elizabeth Nogueira Nanni, em 1970:
“Como naquela época não havia residência médica estruturada, fiz dois anos de estágios em dermatologia dentro e fora da Unicamp sob orientação do Prof. Raymundo Castro”
De monitora de dermatologia durante a graduação à docente, sua trajetória na Unicamp durou cerca de dez anos.
Com a ida do prof. dr. Raymundo Martins Castro para a Escola Paulista de Medicina e do prof. dr. Luiz Henrique Camargo Paschoal, para a Faculdade de Medicina do ABC após curto período na coordenação da disciplina, o prof. dr. Aureliano da Fonseca assumiu o cargo de professor titular. Convidado por Zeferino Vaz, então reitor da universidade, veio de Portugal em 1975 e por aqui ficou até 1985. Durante sua gestão, o ambulatório transferiu-se para a vizinhança da Santa Casa de Misericórdia até a mudança definitiva para o Hospital de Clínicas da Unicamp em 1985.
O prof. dr. Elemir Macedo de Souza, contratado em 1978, participou ativamente desta transição. Sua trajetória se confunde com a própria história da dermatologia Unicamp: foi o responsável por estreitar os laços entre a dermatologia e a patologia, aliando-se à prof. dra. Eliane Maria Ingrid Amstalden e à prof. dra. Maria Letícia Cintra. Com esta última formou uma dupla notável no ensino da dermatopatologia, paixão que não se desgastou com o tempo, e que formou gerações de residentes ao longo de todos esses anos.
A profa. dra. Maria Beatriz Puzzi chegou à Unicamp em 1977. Sua carreira acadêmica foi percorrida entre Brasil e França. Foi no pós-doutorado, em Bordeaux, que adquiriu experiência em cultura de células da pele, linha de pesquisa que atuou desde a montagem de seu laboratório de cultura de pele em 1997 e que alçou a disciplina ao mérito científico.
Outros muito contribuíram para que a especialidade alcançasse a primazia ao longo de todos esses anos: profa dra Maria José Salles dedicou-se à Alergia e às Doenças Bolhosas; prof. dr. Mário Carbonari Filho, à Hanseníase; prof. dr. Francisco José Adão da Fonseca desbravou os campos da Cirurgia Dermatológica e documentação iconográfica; prof. dr. Vitor Manuel Costa Ferreira da Silva atuou no campo da Micologia, profa. dra. Maria Anaitis Graziano da Silva Turini integrou a equipe da Dermatopatologia.
O retorno à Unicamp da ex-residente dra. Aparecida Machado de Moraes aconteceu em 1989, após especialização em Cirurgia Dermatológica e Criocirurgia no Hospital das Clínicas da Universidade de São Paulo:
“Senti-me honrada pela proposta de compor o corpo docente da disciplina e por poder retornar à instituição onde havia iniciado minha carreira de dermatologista. Pertencer à Unicamp era para mim um prêmio do qual sempre me orgulhei.”
Ela foi a responsável por dar continuidade e consolidar o Serviço de Cirurgia Dermatológica e pela estruturação da Criocirurgia. Esta reorganização agregou o ambulatório de Tumores Cutâneos Malignos à Cirurgia.
Um projeto antigo da Profa. Aparecida Moraes concretizou-se em 2009: a implantação da Cirurgia Micrográfica de Mohs pelas mãos da Dra. Luciana Takata Pontes, atualmente coordenada pela dra Thaís Helena Buffo.
Outro ex-aluno e ex-residente que se enveredou para a carreira acadêmica foi o Prof. Dr. André Luiz Vergnanini, orientado em seu mestrado e doutorado pela Profa. Dra. Maria Beatriz Puzzi. Foi docente, atuando na área de Cirurgia Dermatológica e Laser.
Por prósperos oito anos, entre 1995 e 2003, o serviço contou com a contribuição da prof. dra. Ana Maria Uthida-Tanaka. Seu caráter, altruísmo e determinação fortaleceram a especialidade, levando à posterior aquisição do prof dr Paulo Eduardo Neves Ferreira Velho como docente e da dra Renata Ferreira Magalhães, como assistente, a partir de 2003.
A pesquisa em Psoríase, tema do doutorado defendido em 2009, estimulou a Profa. dra Renata Magalhães a agrupar os pacientes para otimizar seu atendimento:
“Quando vi, já havia transferido a maioria dos doentes para segunda-feira de manhã, então só faltava dar o nome ao ambulatório”
É hoje uma das docentes mais versáteis da especialidade, atuando com a mesma destreza nas áreas clínicas e cirúrgicas.
Segundo o Prof. Paulo Velho, a Dermatologia está em franca ascensão no âmbito da universidade. “Além das novas contratações, aumento dos pós-graduandos e da produção científica, a reforma curricular quadruplicou a carga horária da especialidade na graduação.” Muitas destas conquistas devem-se a seu trabalho integral.
A Dermatologia está em constante evolução. Sediou, em 2022, uma Jornada Paulista da Regional São Paulo da Sociedade Brasileira de Dermatologia, em comemoração aos seus 55 anos de existência. Conta em seu corpo docente, além do prof dr Paulo Velho e da profa dra Renata Magalhães, com a expertise da profa dra Andréa Fernandes Eloy da Costa França, que assumiu em 2016 as atividades relacionadas às doenças autoimunes e alérgicas, além das médicas assistentes, dra Juliana Yumi Massuda, dra Elisa Nunes Secamilli e dra Thaís Helena Buffo. Médicos voluntários, professores colaboradores e pesquisadores integram o time atual da especialidade, em atividades ambulatoriais, cirúrgicas e de pesquisa.
A lista de dermatologistas formados e em formação na Unicamp contabiliza mais de 100 nomes.* Médicos estes que deixaram e levaram um pouquinho desta grande história, da qual faço parte literalmente.
Dra. Michelle Etienne Baptistella Florence**
